
Falas aconteceram em um debate com Tabata Amaral sobre liberdade de expressão
O procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou hoje a abertura de inquérito para apurar suposta prática crime de apologia ao nazismo pelo deputado federal Kim Kataguiri (Podemos-SP) e por Bruno Aiub, influenciador digital conhecido como Monark. As falas de Kim ocorreram em episódio exibido ontem, num debate sobre liberdade de expressão e perseguição contra grupos minoritários. "Qual é a melhor maneira de impedir um discurso mate pessoas e que um grupo étnico racial morra? É criminalizar? Ou é deixar que a sociedade tenha uma rejeição social?", disse o congressista.
Monark, que apresentava o programa, afirmou na ocasião que a ideologia nazista não deveria ter sido criminalizada. "A esquerda radical tem muito mais espaço do que a direita radical, na minha opinião. As duas tinham que ter espaço. Eu sou mais louco que todos vocês. Eu acho que o nazista tinha que ter o partido nazista, reconhecido pela lei", disse o influencer, ao lado de Kim e da deputada federal Tabata Amaral, que também participava do podcast.
O que diz Kim Kataguiri Em contato com o UOL, o deputado afirmou que irá colaborar com as investigações da PGR e disse ser vítima de perseguição política por parte de Augusto Aras, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro ao órgão em 2019. Leia a íntegra do que diz Kim Kataguiri sobre a determinação da PGR. "É aterrador que o PGR, que sempre faz vista grossa para crimes que realmente aconteceram tenha agido tão rápido. Quando há claros indícios de crime cometido pelo presidente da República, Augusto Aras nada faz. Porém, diante de uma conduta claramente de mero debate em um podcast, Aras age rapidamente —e com inquestionável cunho político para perseguir minha conduta de oposição ao governo Bolsonaro.
É um contrassenso. Vou colaborar com as investigações pois meu discurso foi absolutamente anti-nazista, não há nada de criminoso em defender que o nazismo seja repudiado com veemência no campo ideológico para que as atrocidades que conhecemos nunca sejam cometidas novamente. Ao contrário das pessoas privilegiadas pela inércia de Aras, nada tenho a esconder." Crítico do governo, Kim integra o Podemos, partido do pré-candidato à Presidência da República Sergio Moro. Antes de rechaçar a decisão de Aras, o deputado havia publicado vídeo em suas redes sociais, em que afirmava que errou por não ter se manifestado de maneira contundente contra as declarações de Monark. "O primeiro ponto que precisa ficar claro é que eu não defendo criação de partido nazista. Quando o Monark falou aquelas atrocidades, eu falhei em representar a comunidade judaica como deveria", diz o congressista.
Repercussão Presidente do partido de Kim, a deputada federal Renata Abreu criticou as declarações do correligionário: "O nazismo é um crime permanente contra a humanidade. Intolerável e inadmissível qualquer tipo de defesa em um ambiente democrático". Além dela, diversos políticos, ministros do STF, celebridades, grupos sionistas e associações que reúnem judeus no Brasil se manifestaram contra as falas de Monark e Kim. No campo da esquerda, o PCO defendeu a liberdade de expressão irrestrita, afirmando que a censura a ideologias de terceira posição, como é o caso do nazismo alemão e do fascismo, acarretariam também no aviltamento do comunismo.